poema escrito sem critério, provavelmente ruim
ainda mastigo aquela
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀dureza de
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀nervos
tento desmistificar o dia frio em
que voltei para
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀casa
com o corpo mais pesado para
arrastar
atrás de mim uma sombra
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀fria
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀duplicando
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀o meu corpo
pesado para arrastar
chuva de vento olhando pela janela do ônibus
molhando os pés na poça
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀fria
⠀⠀⠀dentro de mim faz frio
arrasto ainda aquele
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀dia
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀dobro
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀sob o
peso de sempre
haver
o mesmo
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀gosto
⠀⠀⠀que eu insisto por
⠀⠀⠀ lamber
e mastigo e mastigo
a dureza
dos nervos dos olhos dos
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀cancros
de tentar
encobrir o que frio
⠀⠀⠀ dentro de mim faz frio
sorrio e
sorrio e lambo o bolo de dor atrás dos
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀dentes
com uma língua que não quer lembrar
uma lágrima que não quer
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀chorar
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀o gosto
daquele dia frio
que sempre
quando voltei para casa
mais difícil de arrastar de
caber em
mim nos
corações que batem
fracos no meu peito
onde nevou ontem à
⠀⠀⠀ noite
⠀⠀⠀⠀⠀ no centro do Rio de Janeiro
um sorriso manco
com dentes demais
com histórico de hipercorreções emblemáticas
com vergonha das fotos velhas
um riso ficando velho
numa boca imemorial
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀um riso
de dentes muitos
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀dentes
arreganhados na sombra
tentando rasgar a
dureza ou
cuspir longe o
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀estar em
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀mim
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀que sou inverno